Entao pessoal, tive que dar uma parada no skate p/ poder defender o mestrado. entao tenho passado o dia escrevendo. para nao deixar isso aqui as moscas to postando ai embaixo o posicionamento filosofico do trabalho! Comentem por favor !!
bjs e abs do JV
1. Sobre o Virtual
1.1. Sobre o Virtual
Entender o objeto virtual, ou eletrônico, é uma missão relativamente simples, principalmente, como afirma Kant (2009), quando tratamos de elementos já conhecidos. Segundo esse autor, “Nosso conhecimento tem duas origens principais na mente”: uma delas se caracteriza pela capacidade de receber as representações, já a outra “é a faculdade de conhecer um objeto por essas representações”; ou seja, enquanto um objeto nos é fornecido pela primeira, a segunda nos permite pensa-lo em relação a essa representação, “como pura determinação da mente”
Muito antes da existência da eletrônica moderna, a palavra virtual já existia na língua, tendo suas raízes no termo latino Virtus, que significa virtude, força, potência. Ao ser trazido para a língua portuguesa, algumas outras definições para este vocábulo se apresentaram
- O que existe como faculdade, porém sem exercício ou efeito atual;
- Que não existe como realidade, mas sim como potência ou faculdade;
- O que é suscetível de se realizar, potencial, possível;
- Que equivale a outro, podendo fazer às vezes deste, em virtude ou atividade;
- O que está predeterminado, e contém todas as condições para sua realização.
Notavelmente, essas definições não fogem muito ao significado original da palavra, e continuam no âmbito do “potencial”, sem, sequer, mencionar fatores tecnológicos. Isso ratifica o pensamento de Pierre Lévy, que considera que antes das tecnologias eletrônicas (dos dispositivos técnicos), já existiam vetores de virtualização, tais como a imaginação, a memória, o conhecimento e a religião
Ao entramos na era dos meios digitais e das relações eletrônicas, novas definições se apresentam e um dos principais autores que trata desse tema é, o já mencionado, Pierre Lévy. Esse filósofo considera o virtual como um "complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução, a atualização."
Em contrapartida, ao analisarmos particularmente o objeto desta pesquisa – modelos virtuais/eletrônicos tridimensionais – deparamos com certa contradição nas interpretações acerca do termo acima discutido. Para o geógrafo Milton Santos o computador “não simplifica o que é complexo, mas contribui à sua apresentação simplificada, o que somente obtém à custa de um processo brutal de redução”. O autor acrescenta, ainda, que, “para ser eficaz, o pensamento calculante exclui o acidente e submete a elaboração intelectual a uma pratica onde a sistematização e a estandardização impõem sua lógica própria, isto é, o domínio da lógica matemática sobre a lógica da história. É como se as matemáticas ganhassem vida própria (...) ou como se o espaço matemático se encarnasse materialmente”
Ao lembrarmos as ideias de Kant (2009) sobre o entendimento, percebemos que o modelo eletrônico é uma forma de visualização de conceitos pré-concebidos, esses sim virtuais - pelo fato de apresentarem infinitas possibilidades potenciais - servindo como uma excelente ferramenta na destilação dos conceitos rumo à concretização física/geográfica do objeto. Santos (2009), citando Getler, teoriza que “com a tecnociência, tornou-se possível o método de estudo e antecipação, significado pela cibernética”
Outro fato que nos faz retornar aos ditos de Santos (2009) sobre a encarnação da matemática é a ordenação lógica da programação, que baseia a formulação de softwares de modelagem e a própria ação de modelar em tal plataforma. Esse sistema é baseado na matemática euclidiana/cartesiana, tendo sempre uma origem e três planos representados por x, y e z, que correspondem à tridimensionalidade do mundo que nos cerca. Essas características implicam cuidados no ato da modelagem: o trabalho é realizado em uma abstração do espaço tridimensional, que é codificado através da representação matemática clássica, para que seja possível utilizar uma interface bidimensional como uma tela de computador, como uma plataforma de visualização. É evidente, portanto, que a representação eletrônica tolhe inúmeros dados para que seja possível a formatação em padrão euclidiano/cartesiano, o que impede, muitas vezes, a construção de geometrias que estão em desacordo com os arquétipos de tal sistema, limitando, e muito, o número de soluções – atualizações – do complexo problemático apontado por Lévy
Por outro lado, em um momento posterior, ao tornar-se objeto físico/geográfico, novas potencialidades surgem. Segundo Milton Santos
À luz dos fatos apresentados anteriormente, podemos concluir que o modelo eletrônico deve ser analisado não como entidade virtual, mas como entidade de atualização, que irá responder à virtualidade que concebe o mesmo, lembrando-nos, dessa forma, a diferença entre semelhança e similitude apontada por Foucault
“A semelhança tem um padrão: elemento original que ordena e hierarquiza a partir de si todas as copias, cada vez mais fracas, que podem ser tiradas. Assemelhar significa uma referência primeira que prescreve e classifica. O similar se desenvolve em séries que não tem começo nem fim, que é possível percorrer num sentido ou em outro, que não obedecem a nenhuma hierarquia, mas se propagam de pequenas diferenças em pequenas diferenças. A semelhança serve a representação, que reina sobre ela; a similitude serve a repetição, que corre através dela. A semelhança se ordena segundo o modelo que está encarregada de acompanhar e de fazer reconhecer; a similitude faz circular o simulacro como relação indefinida e reversível do similar ao similar.”
Não é pretensão desse trabalho chegar a afirmações e definições sobre o que é ou o que não é o virtual. A explanação anterior tem por objetivo apenas situar o leitor nessa discussão de deveras importância, e, desse modo, abalizar as referências sobre os objetos tratados, assim como o partido tomado: o virtual esta na interação, e não no objeto em si, desse modo, opto pela nomenclatura “modelo/objeto eletrônico” em detrimento à “modelo/objeto virtual”.